Friday 30 July 2010

I can´t speak French so let the funky music do the talking



Encontrou Mrs Lower em frente a estação de Oxford Circus, um aperto de mão desconcertado, um olhar desconfiado e um beijo com estalo. Foram caminhando em direção à Winsley Street número quatro.Era sexta-feira e uma noite de frio cortante que parecia não importar com as pernas que Amanda deixava à amostra. Pessoas chegando, outras saindo, aquilo era Londres, a cidade que não parava, por isso um relógio que foi tão protegido na Segunda Guerra Mundial,no meio daquela cidade de céu cinzento, deixando bem claro a caraterística de cada inglês: o horário.

Duas filas, uma enorme e outra seleta com apenas um grupo de 10 pessoas. Uma negra de 1.90 de beleza exótica, corpo esguio e uma encantadora covinha quando riu segurava uma prancheta. Ao lado de dois seguranças Poloneses (percebia-se pelo olhar de fúria e um sorriso gentil os quais ainda a guerra tinha deixado marcas ) ela perguntava se o nome estava na tal "guestlist". Um rapaz frágil de palavras educadas e sotaque francês tirou suavemente o sobretudo de Amanda e deu-lhe um ticket com um número.

Luzes azuis, vermelhas e amarelas se misturavam ao redor daquele lugar com decoração antiga da arte chinesa. Um grande mapa octogonal que ficava de pé na sua entrada e de costas para a saída a surpreendeu e sentia uma energia sugar toda sua respiração e sentir um perfume do incenso de cravo. Batidas leve de uma house music e uma mesa de vidro com duas garrafas de um espumante oriundo da região francesa. Mrs Lower de poucas palavras e olhos desviados para o de Amanda explicou que um acidente na costa finlandesa fez com que estas garrafas de champanhe estivessem perdidas no fundo do mar até 1997. E ali estava Amanda observando o processo de fermentação que acontece no armazenamento de dióxido de carbono que vira a simples bolha que vai de encontro a seus lábios carmim, bebendo um Champanhe Heidsieck 1907 com aquele homem que observava os olhos dela que nem se quer piscavam ouvindo todo entendimento. Chegaram alguns homens, sentaram ao redor e começaram a falar em francês e Amanda retribuia apenas em sorrisos cada palavra que não entendia e se deixou levar pela música que a fazia sentir a energia estranha daquele lugar.

Wednesday 28 July 2010

St James Park



Atravessou a praça do Parlamento em direção a Abadia de Westminster virou à esquerda na Great George St. e foi cortando caminho por dentro do St James Park. Cruzou o lago Serpentine e ficou sentada na Blue Bridge. Entre tantas pessoas indo trabalhar, entre toda agitação da cidade, ali estava ela, parada no tempo observando um cisne de alvacentas plumas num lago de ponte azul, que um dia ao certo morrerá onde talvez a água se tisne. O amor se fez morada ali, naquele instante, como se deslizasse elegantemente cortejando uma dama e ávidos sentimentos que a preendiam diante de tanta liberdade.

Era 10:30 e de longe escutou separadamente cada instrumento que invadiu seu pensamento de curiosidade, pessoas com passos apressados indo em direção a um castelo que conseguiu ver de longe. Soldado de jaqueta vermelha e chapéu de veludo preto, que foi feito para conquistar territórios estranhos, agora caminhava na mesma calçada que o imutável e o tradicional. Tinha dentro do seu coração um grande pedaço de Londres que não conseguia deixar para trás, não conseguia se quer mover um dedo, igual os soldados que se encontravam na sua frente.

Monday 26 July 2010



Entre rosas e perfumes cítricos, castelos e realeza,antiguidades da Primeira Guerra
Mundial. Entre barracas e toldos listrados,trigos coloridos em vasos indianos, sultilmente podia sentir de longe todo esplendor de um sorriso do vendedor romeno, amarelado que fora arrancado por aqueles olhos amendoados de andar pajem. Como uma jovem serviçal, destribuia sentimentos pelas nas ruas de Covent Garden.

Friday 23 July 2010

Westminster Bridge






A resposta da mulher veio logo perguntando quando poderia começar a trabalhar e que iria alguém acompanhá-la para explicar como tudo funcionava. As 10 horas em um pub do outro lado do rio as gaivotas sobrevoavam sobre um navio abandonado, procurando migalhas de pão, pessoas cruzando de um bote para o outro e depois de tanta cena reunida encontrara o tal pub que era todo feito de madeira com uma pequena bandeira da Inglaterra pendurada. Sentou, pediu um double expresso e sentiu o cheiro que aquele lugar tinha. Uma mistura de biblioteca abandonada com cerveja quente. Observou um casal que sentava na sua diagonal, ele parecia estar furioso com ela, e a mesma com seus olhos vermelhos, bem mais bêbada do que ele (não conseguia entender como uma mulher se deixava levar pela vulgaridade daquela forma as 10 horas da manhã, o valores estariam se invertendo ?) o fundo do copo com espuma e uma grave batida na mesa com a mão direita revelava que o assunto estava acabando e era hora de ir embora.

Ela saiu carregada por ele, sua calça jeans estava um pouco abaixo da sua cintura deixando visível sua calcinha cor de abóbora. Ele a carregava meio sem jeito, mas o mais impressionante de tudo: ninguém olhava para a cena, somente a mesma, e se sentiu incomodada.

Wednesday 21 July 2010

Big Ben




Pessoas que nem se quer triscavam umas nas outras ou mesmo só de ter atrapalhado o caminho já pediam desculpas. Pessoas com uma expressão de não saber para onde estavam indo em uma correria, subindo as escadas rolantes pelo lado esquerdo e as pessoas mais calmas com o cotovelo encostado no corrimão ao lado direito esperavam a vez de chegar no seu destino.

Um cheiro de perfume suave misturado com um desafio indescritível pairava naquela cidade. Seus passos atropelavam as suas próprias pernas subindo as escadas da estação de Westminster Station. O vento gelado e tênue enroscava em cada fio de cabelo da menina que tinha deixado para trás o certo e ia em busca do incerto. Suas pupilas dilataram quando o Big Ben a viu pela primeira vez e toda a cidade parecia parar no tempo e só existia uma trilha sonora: a dela. Tinha no bolso um pedaço de papel que guardou do site que viu, não hesitou, pegou algumas moedas e ligou.

Percebeu que a cabine telefônica era um pouco suja e tinha umas propagandas de mulheres peladas e algumas pichações feita no vidro. Uma voz grossa feminina atendeu do outro lado com sotaque espanhol, perguntou nacionalidade, altura, cor dos olhos, cor dos cabelos. Do jeito que era Amanda, fez logo uma pergunta para acabar com todas as outras:

-A cor da minha calcinha também?

Tuesday 20 July 2010

Through the window




Pegou o 77A que ia direto pra Trafalgar Square, sentou na última cadeira onde conseguia ver tudo pelo grande vidro, pelo caminho foi vendo o semblante das pessoas naquela cidade fria e tão culta. Conseguia ver pessoas que tomavam café na Starbucks ou no Café Nero e liam seus livros tão concentradas que pareciam que o próprio Harry Potter estava à sua frente lutando com os dragões de uma fantasia tão real quanto a dela.

“Stand clear of the closing doors please”, uma voz de uma gravação 27 vezes, da sua casa ao seu destino, avisando que era pra ter cuidado quando a porta fosse abrir.

Fazia seu mundo novo, juntando cada pedaço estraçalhado que tinha ficado pra trás, juntando cada pecinha como se fosse um quebra-cabeças fazendo tudo parecer real naquele destino tão irreal.

Saiu do ônibus e sentiu o vento cortante pelo seu rosto, caminhando em direção a um bar em Mayfair. Mapa na mão enquanto sua boca trêmula de frio perguntava onde ficava o tal lugar aonde havia marcado com Seron.

Monday 19 July 2010

Starting




Veio uma garçonete com uma faixa etária de mais ou menos 21 anos perguntando quantas pedras de açucar ela gostaria. Fez com os dedos um V indicando o numeral “dois”, mas a garçonete riu e falou baixinho no ouvido dela:
-Se eu fosse um Escocês, ou provavelmente tivesse uns 50 anos e fosse bem rabugento, iria te dizer: “você também"!

E só depois foi explicar pra Amanda que aquele gesto significava um “Fuck you” e explicou que há mais de 650 anos, os franceses mutilavam os arqueiros ingleses capturados em batalha, decepando seus dedos médio e indicador. Após batalhas de Agincourt e Crécy, em que os franceses foram duramente derrotados, os ingleses vangloriaram-se diante dos prisioneiros levantando as mãos, os dois primeiros dedos esticados, palmas para dentro, para os dedos intactos..


Viu chegar uma mulher baixa com estatura de menina, seu andar era apressado, cabelos negros e bem lisos com um pequeno topete, os óculos cobriam a maçã do seu rosto juntamente com a bolsa preta passando do seu quadril. Aproximou-se de Amanda :

-Prazer, meu nome é Serom. Ainda não me falaram a respeito de você,sei que és brasileira, podias me contar o que você realmente pensa sobre o trabalho ? - abaixou os óculos deixando claro seus olhos bastante pequenos e apertados.

Mil coisas se passaram pela cabeça da aventureira, uma vontade de perguntar como ela soube que tinha sido ela que havia ligado, mas achou melhor deixar o seu gênio forte para outra hora, até porque precisava do trabalho.

-Sou brasileira sim. Pelo o que eu vi no site vocês procuram garotas com corpo de mulheres, que apareçam de mãos dadas com seus respectivos “namorados” aparentando-lhes dar a seus companheiros um orgasmo metafísico para a sociedade Britânica.

-Bingo! O nome de todas essas palavras juntas se dá :Scort.Está contratada. Tenho aqui uma ficha que precisa preencher, hoje mesmo eu encontro você as 20:00 para te dar todas as instruções.

Friday 16 July 2010

Just let it go




Uma música de violino começava a tocar e cada nota musical era o suficiente para mexer com todos os sentimentos adormecidos dentro do ser de Amanda. Ela não hesitou mesmo sabendo que ira interromper a conversa, o convidou, quase sussurrando no seu ouvido, sobrancelha direita levantada e falou:

-O senhor me concede uma dança?

E conseguiu mais um sorriso daquele homem, que parecia ter sido abandonado dentro de um casarão de madeira, onde somente o que poderia escutar, eram os seus próprios passos.

Cada movimento era sutil e sublime em Amanda. Senhor Call esquecera descompassadamente todos que estavam a sua volta. Um movimento de bailarina delicado, onde os corpos ainda estavam fisicamente distantes, assim como o palco de uma platéia.

Aumentava a intensidade da respiração e os seus corpos foram sugados em somente um corpo, unidos por uma só nota musical.

Amanda não tinha idéia de que esse era mais um pré-requisito que não era permitido na agência, a acompanhante só poderia “aceitar” mas nunca convidar. Ela sempre se deixara permitir pelos seus sentimentos mesmo sabendo que a queda poderia ser muito grande, por estar sempre muito alto, ela sabia que valia a pena, se permitir mais uma vez.
Foi então quando o Senhor Call ao deixara em casa, segurou-a pelo braço e disse com um pequeno sorriso:

-”Muito obrigado”-
E podia escutar a sua voz doce com ar de brincadeira:

“-Eu sei que você faria o mesmo por mim” e piscou o olho com um sorriso dentro dos lábios carmim.

Thursday 15 July 2010

A view and lods of martinis...





Paredes pintadas de branco, barulho de taças, mulheres com movimentos mecanizados mostrando de uma forma discreta suas mais fascinantes jóias que só poderiam ser dadas por um amante. Muitos dos olhos se voltavam para uma menina mulher de vestido preto, com seu andar provocante de passos curtos e olhos penetrantes que focalizava cada rosto que ali estava. Dois martinis com bastante azeitonas,um cérebro meio zonzo de tanta vodcka e algumas baforadas de charuto do Chile, com direito ao hálito de um Chivas 12 anos.

Sentaram-se e logo após alguns segundos outros homens da mesma faixa etária que o Senhor Call também chegaram e começaram a conversar entre si. Beijaram a mão de Amanda com um sinal de respeito e gentileza. O sutaque britânico deles era pesado dificultando os ouvidos dela, que tentavam de qualquer forma “fisgar” algo no ar, para saber do que se tratava. Um martini, um sorriso, dois martinis, três,quatro martinis e algumas goladas de água com gás para suportar mais algumas horas...

Wednesday 14 July 2010



Respirava fundo e tinha vontade de dar uma grande risada por permitir a si mesma, todo aquele mundo.
Parou o carro e Amanda observava, o smoking preto de cabelo grisalho charmoso indo em direção a uma máquina parada na rua no meio do nada e viu que ele estava colocando algumas moedinhas. Ela não deixou de franziar a testa, para ele poder dar uma explicação do que aquilo significava.
-Enquanto no Brasil nos temos as pessoas que pedem dinheiro para “olhar” o carro da gente, vocês ja transformaram os pobres dos flanelinhas em máquinas paralisadas nas ruas.
E consiguia arrancar o primeiro sorriso de um homem que parecia passar horas lendo jornal com sua milagrosa taça de vinho para curar a dor da solidão com os óculos que se deslizava pelo nariz. Senhor Call, fez um gesto interrogando-a:
-”Mademoseille?” - com a sobrancelha levantada e deu-lhe o braço para entrarem juntos.

Monday 12 July 2010



No espelho só os lábios carmim se destacavam. Sobrara tão pouco dela mesma... Migalhas.
Colocou o melhor vestido preto.

-Hora de começar Tudo Dona Amanda. Pegou sua bolsa carteira e olhou mais uma vez pro espelho e dizendo:
-O que seria o “nada”? Pensou.. Retocou a maquiagem e olhou bem dentro dos próprios olhos, vendo a sua pupila dilatar-se e respondeu com um sorriso no meio da boca.
-O nada é uma palavra esperando a tradução...
...

Levantou seu braço esquerdo e olhou fixamente para a taça, viu o reflexo de uma face meio turva onde a cor amarelada do champagne se misturava com alguns pedaços de morangos e deu um gole no seu chá inglês da meia noite.

Estava numa mesa composta por autoridades britânicas e por estar fazendo algo que fugia da linha de raciocínio de mulheres Amélias.

Sunday 11 July 2010



Ela era a Maria e o João, tinha nos seus olhos a ingenuidade de uma santa e nas suas palavras resistência e avidez. Quanto mais tinha, mais queria. Levava consigo alguns objetivos, já que ela odiava a palavra "sonho" que era algo muito distante da sua realidade. Sua pele era suave, com semblante de paz e tinha uma aura de antiguidade que tanto podia ser da Indonésia como dos Andes.

Pelo meio de tantos sobretudos pretos na Regent Street e rostos desamparados, de longe se via um cachecol listrado colorido parecendo iluminar cada ser que passasse ao lado dela. Seus olhos eram rápidos demais para captar o movimento de cada pessoa, mas um turbilhão de pensamentos parecia não acompanhar a ressaca do dirty martini da noite passada. Entrou no Starbucks, pediu um double expresso e desceu amargamente fazendo aquecer cada músculo do seu corpo. Caminhou em direção à Oxford Street, um nome derivado da rodovia que ligava a cidade de Oxford com Londres. Cada rosto que por ela cruzava tinha uma história diferente em que suas pupilas dilatavam tentando entender as expressões faciais de cada um que por ela passavam.

Parou em Bond Street e vislumbrou uma vitrine viva, flocos de neve caiam sobre um véu onde cobria o fino cabelo da bailarina que dançava ao som de uma Ópera muito distante com um suave perfume de cravo. Era tão simples ver aquela cena serena onde todos os seus movimentos se concentravam na ponta dos seus dedos dos pés deslizando sobre uma madeira brilhante.

Friday 9 July 2010



Elas brigavam, se xingavam todo dia, se insultavam a cada batida do big ben, arrumavam as malas dava meia volta e Amanda acabava na Trafalgar Square alimentando alguns pombos com restos de amendoim do Tesco, aquele que ficava logo ali na esquina.Era assim a briga diária de Londres e Amanda... A menina tinha todas as histórias reunidas em um só corpo, todos os sentimentos em uma pulsação acelerada dentro de apenas um coração e tinha a música de milhares de mulheres mas onde exista apenas uma nota musical: a dela.

Democrática, encantadora, linda e cosmopolita, ao redor de tanta gente moderna escondida dentro de uma cidade não destruída na II Guerra Mundial. Estranhamente aquela cidade tinha uma mágica, a mesma parecida com o gosto do Gin, o espumante sabor da água tônica com algumas gomas de limão no final do sabor, bebendo sem entender o que era e vivendo sem saber o por quê.